quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A monarquia dos jotas

Uma noite destas os meus passos cruzaram-se com os de um grupo de jotas. Não é o género de experiência que se queira ter com regularidade. Equivale a sairmos à rua na noite dos mortos-vivos e darmos por eles tarde demais para mudar de passeio. Sinistro assim.

Como já todos tiveram decerto oportunidade de apreciar, os jotas são uma espécie de guarda pretoriana dos partidos que ambiciona — e consegue — obter cargos políticos. Enquanto adolescentes, fazem de claque, de tropa de choque ou de aias dos chefes partidários. Vão aos comícios, aos jantares e às cerimónias, com a sua prestabilidade e a sua coqueteria, criar a ilusão de que os líderes são homens de estado, respeitados e respeitáveis, admirados e amados, carismáticos e visionários. São a cortina de fumo que se interpõe entre os políticos e a realidade. Uma pequena corte de pajens obsequiosos que ajuda o soberano a construir castelos no ar. Os chefes dos partidos não enfrentam a verdade porque para a verem teriam de avançar à catanada através de uma selva de jotas. A sua estrada de Damasco é uma picada africana que só se cruza se se estiver disposto a usar generosamente a espingarda de caça grossa antes de cair do cavalo. Como os chefes não o estão, não se dá a epifania. Nem caem do cavalo. Ou se caem é para deixar subir à sela, incólume, um jota da sua predilecção.
Mais tarde, os jotas recebem os seus postos na máquina do Estado para, numa primeira fase, continuarem com mais e melhores meios o trabalho de incensar o chefe e firmar o seu poder absolutista. Na fase seguinte, iniciam o seu próprio reinado de inépcia, arbitrariedade e terror na parte de território que lhes tenha sido atribuída durante a repartição dos despojos.

Em Portugal os jotas têm vindo a chegar aos mais altos cargos do poder. E isso é como ter nos postos de comando nacionais duques e condes (pela pesporrência), aias (pela intriga palaciana) e pajens (pelo corte de cabelo). Nesta particular espécie de monarquia, ao povo não resta mais do que o papel de bobo da corte.

Quem imagina que em Portugal o feudalismo acabou quando acabou a Idade Média não vive cá. O feudalismo não acabou: apenas pôs gravata e, mais recentemente, gel no cabelo.

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