sábado, 29 de dezembro de 2012

O fim da fé

Costumava acreditar no capitalismo e na automatização e informatização dos sistemas de produção. O capitalismo assegurava o crescimento geral e estimulava o desenvolvimento da democracia. A automatização libertava o homem para o ócio.
Entretanto perdi a fé.
Não me confundam: a automatização e a informatização são em si excelentes, mas não me parecesse nada evidente que hoje estejam ao serviço da humanidade. O capitalismo continua interessado em garantir a máxima produção com o menor custo, mas já não há ninguém (com poder) interessado em garantir emprego para os humanos. E, paradoxalmente, a aspiração ao ócio passou a ser uma vergonha, um pecado.
Já não temos como acreditar que os processos e os mecanismos do capitalismo e da investigação tecnológica garantem a renovação dos empregos. O crescimento global permanente é uma impossibilidade e a inovação tecnológica não está a assegurar suficientes novos empregos. O rácio entre chips e humanos é-nos simplesmente desfavorável.
Não havendo epidemias e cataclismos que dizimem suficiente população, o mínimo bem-estar geral só pode ser assegurado por uma diferente redistribuição da riqueza. Mas também isso é algo que o capitalismo não parece nada interessado em providenciar. O capitalismo, tal como praticado nos dias que correm, é uma bela ideia que nos condena.

À falta de outra inspiração, hoje no supermercado evito as caixas automáticas; procuro um funcionário de carne e osso, mesmo que isso signifique estar alguns minutos numa fila.
É uma espécie de luta. Uma luta que perderei, claro: no final, os custos da mão-de-obra extra serão acrescentados às minhas despesas e não deduzidos aos dividendos dos accionistas.

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