sábado, 25 de agosto de 2012

Caminhada de sábado à tarde

São um casal, vêm equipados com sapatilhas, calções e t-shirts coloridas, a dela laranja, a dele amarelo de colete reflector. Algo correu mal ao estacionar. Vêem-se a discutir apontando o carro, ora aproximando-se dele, ora afastando-se alternadamente com ar de quem já ouviu tudo e se vai embora, o outro que se foda. Mas voltam atrás e repetem argumentos. À distância percebe-se nos gestos o mal-estar, adivinham-se as expressões de ultraje e raiva. Partem por fim juntos, com passada desportiva sincronizada, lado-a-lado para mais uma caminhada saudável no parque. São um casal, é isto que fazem: desentenderem-se e aturarem-se. Desentenderem-se e aturarem-se até ao dia em que não se aturam mais ou se tornam indiferentes um ao outro.

Mas eis que ela volta atrás, cento e cinquenta metros depois. Traz a chave na mão, mete-se no carro e estaciona-o como deve ser, alinhado com as riscas brancas no pavimento. Isto ela conseguiu corrigir, o carro mal estacionado. Retoma a caminhada com o ar decidido de quem fez a coisa certa e devolve-lhe a chave ao passar por ele. Ele também está a corrigir qualquer coisa — a meia na perna, os cordões da sapatilha — mas ela não espera, prossegue o seu caminho.
Saíram fora do campo de visão e não se vê o desfecho, mas talvez ele a apanhe, agora que tem o equipamento ajustado, corrigido.

1 comentário:

  1. seguramente o episódio foi só o corolário de outras estórias que se passaram antes ou se passariam depois...:) coisas de casais!

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