quarta-feira, 30 de maio de 2012

R.I.P.

Isto é o país de que precisamos:

Isto é o país que temos:

O tipo de pensamento e postura expressos no primeiro artigo são geralmente rejeitados (quando não invectivados) pela populaça indígena. Paus de bandeira do género do que se exprime na segunda notícia têm os partidos e a política na mão. É assim há anos, é assim do continente às ilhas, da freguesia remota ao parlamento da nação. O país tem-se encarregado de afastar da vida pública quem ouse pensar pela sua cabeça e dá todo o poder a um bando de medíocres obedientes. Paz à sua alma.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A oficialização do óbvio

No que toca ao caso Relvas, podíamos achar que o óbvio se tornara ululante mesmo para o mais distraído ou comprometido português, mas ainda carecia de oficialização. Com algum atraso devido aos seus imensos afazeres, o guru da direita, o sempre frontal, precursor e clarividente Vasco Pulido, lá pôs o carimbo na coisa — nos fundos de um artiguito que é, por assim dizer, um exemplo de prosa directa, clara e sobretudo corajosa: «não deve existir um lugar marcado para a irresponsabilidade no Conselho de Ministros»*.

É certo que não menciona o nome do ministro Relvas e evita a palavra demissão, mas isso porque os grandes educadores do povo têm horror aos «bas-fonds da política». A populaça que traduza o artigo e aplique se quiser a eufemística sabedoria ao seu vil quotidiano.

De qualquer modo, a direita pode agora ser menos contumaz que já não é vergonha nenhuma — tem o exemplo do santinho padroeiro.

*In «Mais desgraças», artigo no Público de 27/5/2012

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Fauna

Nem faziam falta os mais recentes desenvolvimentos do caso Relvas/secretas/media. Relvas mentiu aos portugueses (via comunicação social) dizendo que não se lembrava de ter recebido qualquer mensagem do senhor das secretas. Pouco mais tarde soube-se, ele próprio o disse, que recebera sms e e-mails com uma frequência espantosa.
Num país decente — num em que os militantes partidários, os simpatizantes e os comentadores não se dividissem como claques de clubes de futebol, com o mesmo tipo minguado de inteligência, racionalidade ou escrúpulos — o ministro estava já demitido ou demitia-se.
Mas Portugal não é assim. O caso do ministro agrava-se e continua tudo na mesma como a lesma. Uma viagem pelos jornais e pelos blogues lusos mostra como a única ética que existe é mesmo a futebolística: defender «os nossos» — contra todas as evidências, se necessário. Era assim no tempo de Sócrates, é assim agora. Havia as amibas socialistas; agora as do CDS e as do PSD somam esforços para ultrapassar os feitos viscosos da subespécie anterior.
Esta gente não merece respeito — e no entanto tem a maioria dos votos e das audiências. Eis o epitáfio nacional.
Não tenho idade para isso, mas vendo como rasteja esta canalhada artrópode sinto-me contemporâneo das trilobites. Velho desse modo.