quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Perplexidade

Mesmo para leigos como eu, que apenas lêem uns artigos e uns raros livros, há coisas que não podem deixar de causar perplexidade. A extensão da crise e a forma como as medidas aplicadas nos dois lados do Atlântico não a fazem recuar nem um pouco pareceriam implicar acima de tudo uma revisão (mais ou menos profunda) do capitalismo ou da sua prática, não esta involução na continuidade.
Há quem invoque a História (diferentes momentos da História, na verdade) para defender diferentes soluções. Mesmo que concordemos que a ortodoxia seguida pela direita em Portugal e na Europa é a pior escolha (e são cada vez mais os economistas a dizer que sim, até já doem os ouvidos), não parece ser certo que soluções mais keynesianas, digamos assim, fossem eficazes. Um número crescente e heterogéneo de autores fala na irreversibilidade do declínio ocidental — para lá das questões sobre a culpa. (E no entanto há entre estes autores quem proponha que ainda era possível evitar “um mundo de soma zero”, onde os interesses de uns países competem com ou anulam os interesses de outros.)
A ascensão dos BRIC não implica necessariamente um bem-estar generalizado para as suas classes sociais e certamente não significa que a democracia mundial (se sobreviver) passa a ser defendida (nem mesmo tutelada) por outros quadrantes geográficos.
Estes dois cenários, a crise ocidental e a ascensão económica mas não mais democrática dos países emergentes, parecem pôr em causa o capitalismo, a sua actual eficácia ou até pertinência. Mas o que vemos? Políticos incapazes de pensar fora do arquétipo. Comentadores ocupados nos seus jogos florais de demonização do outro. A Inquisição à procura de quem viveu acima das posses ou teve ilusões. Ideólogos de blogosfera a achar excelente a oportunidade para aplicar finalmente velhas receitas muito lá de casa.
Em Portugal não admira que assim seja, a política e a gestão da coisa pública há muito estão entregues a dinossauros e a jotinhas (querem culpados?), o pensamento independente e crítico não é bem-vindo. Mas na Europa não haverá quem meta algum senso nas cabecinhas dirigentes?

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