Há uma quarta pessoa de serviço na sala. É probabilisticamente possível
que lhe perguntem de novo, como se fosse a primeira vez, se está sozinha. Mas
seria a sua quarta resposta, a quarta vez que negaria a si mesma a evidência. Levanta-se.
Recusar a ementa não foi uma deferência para com quem haveria de vir. Foi um
acto preventivo. Não tem nada a pagar. Pode sair sem enfrentar os olhares do
pessoal.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Sábado à noite
Morena, vestida de escuro, ar trágico. Senta-se e um dos empregados
logo lhe traz a ementa. Ela recusa, delicada, espera mais alguém. Escolheu
ficar de frente para a televisão. Fixa-a como se olhasse através da janela, nas
pausas de espreitar por cima do ombro a entrada do restaurante. Os minutos
passam. Um segundo empregado, de passagem pelo sector, repara nela. Amável,
deixa a ementa que traz debaixo do braço. Ela recusa, diz num quase sorriso que
espera mais alguém. O dono acaba de regressar do seu cigarro na rua, nota a
cliente sem menu e imagina incompetência do pessoal. Num resmungo, ataca o
móvel das entradas e, já simpático, pergunta se «é sozinha». Ela recusa mais
uma vez a ementa, pede que recolha as entradas, ainda espera alguém.