sábado, 19 de novembro de 2011

Bonnie and Clyde

Um casal passeia no parque, pisando as folhas coloridas do Outono. São muito novos, mas vestem como adultos, com uma elegância clássica. Ela tem um penteado de diva de cinema, louro, ondulado, enrolado nas pontas como em certas fotos de Marilyn Monroe. No rosto, a acne trai a idade. Ele penteia-se com uma perfeita risca ao lado e talvez um pouco de gel. Imberbe. São ambos esguios, altos, caminham como modelos numa foto-reportagem de exteriores. Agora detêm-se junto a uma árvore. Talvez seja a hora do beijo, Casablanca ou outro. Ela baixa a cabeça, mexe na carteira que traz ao ombro. Ele aguarda. Sabe o que vai sair da carteira, devem ter falado nisso. A pessoa aproxima-se no seu jogging, a espreitar a cena. Por instantes, imagina que a rapariga vai tirar um espelho oval, antigo, com uma pega, para retocar o penteado e talvez o batom. Mas nos headphones soam temas de Nick Cave, Murder Ballads — não dá para afastar o pressentimento de que da carteira sairá uma pistola, que Bonnie and Clyde se preparam para assaltar um pobre transeunte em calções. Por desfastio. Ou porque estão informados da descapitalização dos bancos.